top of page

A poucos meses de mais uma eleição estadual, Educação permanece em segundo plano

Foto do escritor: Maria Clara AucarMaria Clara Aucar

Atualizado: 27 de jun. de 2022

Até o início de 2022, servidores ativos, inativos e pensionistas do estado estavam sem reajuste salarial desde 2014

Fachada do Colégio Estadual Pedro Álvares Cabral, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro (Foto: Maria Clara Aucar)


Reajustes salariais, apoio psicológico, valorização da profissão e investimento financeiro são algumas das demandas mais urgentes de profissionais da educação estadual do Rio de Janeiro - apesar de não serem novas.


O diretor de Relações Públicas e Divulgação da União dos Professores Públicos do Estado (UPPES), Raymundo Nery Stelling Júnior, destacou a urgência de haver uma revalorização do professor. Ele afirmou que a desvalorização progressiva da carreira do magistério, sobretudo financeira, faz com que muitos colegas desistam ou se aposentem da profissão.


– Quando pensamos em um quadro geral do Estado, nós temos que considerar que não haverá realmente uma alavancada da qualidade enquanto não se entender que a carreira do magistério necessita ser dignificada no sentido salarial, porque isto levará que os próprios alunos a reconheçam – argumentou.


O diretor lembrou que, até o início de 2022, os professores estaduais estavam sem reajuste salarial desde 2014.


– Se para qualquer trabalhador isto já é um absurdo, vale lembrar que o professor é um orientador de processo. Ele precisa ter uma vida balanceada para que consiga equilíbrio dentro de seu exercício profissional.


A correção salarial de 13,05% aos servidores ativos, inativos e pensionistas do estado foi implementada em janeiro deste ano. A medida, prevista na lei 9436/21, foi sancionada pelo governador Cláudio Castro e o texto foi publicado no Diário Oficial no dia 15 de outubro de 2021.


O investimento financeiro também é uma questão central para a orientadora educacional Maria Helena Taveira, do Colégio Estadual Pedro Álvares Cabral, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. Para ela, os salários são defasados e a estrutura não é ideal para um ensino pedagógico.


– Aqui é uma escola no centro da Zona Sul e que, por isto, tem uma estrutura boa. Mas ela faz parte da minoria. A nossa realidade são as escolas da periferia, que atendem a maior parte da população, e que têm uma infraestrutura muito ruim, faltam professores – contou.


O método de ensino, detalha Maria Helena, também precisa ser atualizado. Ela lembrou que, durante a pandemia, o relacionamento com a tecnologia se tornou mais forte e a escola não acompanhou essa mudança.


– A escola precisa ser atrativa. Ela ainda é tradicional, mas o mundo mudou. Ela não se adequa muito à rotina deste aluno que tem o mundo na palma da mão, no celular. Isto é muito desinteressante para eles.


Com o relaxamento das medidas de prevenção à Covid-19 e o retorno às aulas presenciais, outra demanda de alunos e professores é a questão psicológica. A orientadora pedagógica contou que muitos estudantes voltaram às salas de aula com problemas de ansiedade e síndrome do pânico, e faltam profissionais para auxiliá-los.


O professor de educação física Antônio Fernando, do Colégio Estadual Visconde de Itaboraí, em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, revelou que não há psicólogos, psicopedagogos e assistentes sociais na escola onde trabalha. O professor disse, ainda, que os alunos se cansam com mais facilidade e voltaram da pandemia com mais rejeição por atividades físicas.


– Eles sofrem por ansiedade. Muitos alunos choram copiosamente, às vezes por questões que, antigamente, eram consideradas banais. Apenas os professores conversam com eles, que só se abrem com o profissional em quem confiam. Mas eu não sou psicólogo. Eu ajudo, amparo, ouço e entendo, mas não sou profissional da área – detalhou.


Antônio lamentou a invisibilidade das questões emocionais e observou que, assim como os alunos, muitos professores também voltaram do isolamento social com problemas graves.


O papel das famílias


Para Maria Helena, as famílias também têm um papel fundamental no processo pedagógico dos alunos. A orientadora contou que, em casos agressivos ou apáticos, por exemplo, os pais ou responsáveis são chamados para buscar tratamentos que permitam ao aluno obter o desenvolvimento social necessário. Ela destacou, ainda, a importância da presença de assistentes sociais no ambiente escolar.


Este projeto das assistentes sociais nas escolas é de extrema importância. Elas têm contato direto com o órgão público, que pode ajudar este aluno. É muito comum conversarmos com a família e, na primeira dificuldade, serem criadas barreiras. A C.E. Pedro Álvares Cabral tem 1200 alunos e apenas uma orientadora educacional, então é muito difícil dar conta de tudo.


A iniciativa a qual Maria Helena se refere é o “Projeto M.A.E. - Mulheres Apoiando a Educação”, lançado pelo governo do estado em parceria com a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro. A proposta é aumentar a frequência e evitar a evasão escolar com o auxílio de mães de alunos da rede estadual e assistentes sociais em 1230 escolas.


É preciso entender que a escola veio para transformar e passar conhecimento ao aluno. A educação, ele precisa trazer da família. A escola só vai funcionar melhor quando houver um maior investimento do governo e esta parceria com o responsável – argumentou Maria Helena.


O diretor da UPPES, Raymundo Nery Stelling Júnior, concordou com a posição da orientadora educacional e acrescentou que é preciso pressionar os órgãos públicos para que algo seja feito.


Caberia também uma posição proativa das famílias. Falta muito esta participação política-cidadã das pessoas, somadas aos governos, que são os detentores dos recursos para a área pública – afirmou.


O papel do estado


As eleições gerais de 2022 se aproximam e os candidatos ao Governo do Estado do Rio de Janeiro devem apresentar as suas propostas nos próximos meses. Maria Helena analisou que o papel do estado é prover uma educação que faça sentido ao aluno.


– A educação é muito técnica, porque quem está nos cargos altos não é o professor. É alguém que não vive a realidade da sala de aula. Se esta característica mudasse um pouco, as pessoas entenderiam do que a escola precisa.


O ex-secretário de Educação do estado Wagner Victer também acredita que a vivência na área seja um fator importante para gerir a área.


– Não há dignidade, não há aceitação e não há sistema de pertencimento se a escola não tiver uma postura adequada em relação ao aluno. A Educação precisa ter pessoas que conheçam a área, sejam boas gestoras e que entendam a parte pedagógica – analisou.


Segundo Victer, a área da educação requer, do gestor, habilidades administrativas, pedagógicas e de trato com a mídia e preparo para ocorrências extraordinárias.


– Com o advento das câmeras nos celulares e das redes sociais, algumas pautas ganham uma dimensão muito grande. Se o secretário não for hábil, rápido e não tiver sensibilidade, aquilo decodifica todo um trabalho. Este trabalho é, também, administrativo para manter as escolas operando, com luz, com água e merenda.

6 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page