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Foto do escritorBruno Povoleri

Eleitores do interior do Estado exigem mais proximidade de candidatos nas eleições

Eleitorado espalhado por 77 cidades fora da Região Metropolitana do Rio de Janeiro prefere opções com ligações locais e ideais similares na hora de decidir o voto


Homem vota em urna eletrônica durante eleições de 2020 (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Terceiro maior colégio eleitoral do país, o Estado do Rio de Janeiro tem perfis distintos entre o interior e as grandes metrópoles presentes na região. De acordo com dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em junho deste ano, o estado conta com cerca de 12,8 milhões de eleitores espalhados por 93 cidades, sendo que 3,8 milhões deles estão entre 77 localidades do interior. No geral, o eleitorado fora do Grande Rio prefere candidatos locais que realizam uma campanha mais próxima no momento definir a escolha de governo, deputado estadual e federal, além de outros cargos do estado.


Para elucidar melhor esta questão e projetar as eleições de 2022, a reportagem ouviu moradores que votam em algumas das cidades do interior do estado, como Carmo, Sapucaia, Sumidouro, Três Rios, Nova Friburgo e Petrópolis, quanto quem está presente na capital. Entre as principais características, os dois perfis se assemelham na hora de decidir o voto, mas diferem na exigência, nos valores políticos e diferenciais dos candidatos.


Especialista em Marketing Digital, Bárbara Apiacá acredita que primeiramente deve ser feito uma análise prévia da região em que um determinado candidato pretende atingir para depois definir os passos seguintes. Por experiência própria ao trabalhar na campanha da candidata a prefeita de Paraíba do Sul, Giselle Gobbi, em 2020, Bárbara vê o perfil das redes sociais do eleitor do interior do estado com características próprias e preferências diferentes.


— Quando estamos fazendo uma campanha, estudamos o impacto de audiência digital e também em mídia offline para entender o comportamento do público de determinas regiões. No interior geralmente a adesão de redes é meio segmentada. Em alguns locais isso se justifica pela desigualdade social, pela falta de acessibilidade e de acesso à internet. Acaba que, nesses lugares em que a internet talvez não seja tão efetiva, as campanhas mais offline, como corpo a corpo, santinho e jornais, tenham uma efetividade maior no direcionamento da comunicação do que no digital — explicou Bárbara.


O designer, produtor gráfico especialista em campanhas eleitorais e ex-diretor de criação da Riotur, Daniel Brick, segue uma linha argumentativa similar à de Bárbara. Além de julgar que o eleitor do interior do estado defende os próprios interesses nas urnas, ele entende que a campanha física leva vantagens em relação às mídias digitais por se adequar melhor aos desejos do local.


— Normalmente o morador do interior é muito bairrista e por isso tende a votar em candidatos que estejam presentes nem que seja somente durante o período eleitoral. Esse morador do interior tem memória curta como qualquer brasileiro, mas quer "ter certeza" de que o voto vai para alguém que irá de fato olhar pela cidade dele. Convencer esse eleitor somente pelas redes sociais é mais difícil por isso. Ele quer cumprimentar o candidato, falar com o candidato ou saber que o candidato visitou a cidade. Esse bairrismo também pode ser indicado a partir de uma liderança local, que passa a ser a voz daquele município — disse Brick.


A vereadora mais jovem da Região-Centro Sul Fluminense e a mulher eleita com a maior votação da história da cidade de Três Rios, Bia Bogossian, de 23 anos e do Partido Socialista Brasileiro (PSB), confirma a tendência de a população do interior do estado optar por um pensamento mais conservador e por candidatos que tenham conexão com aquele local.


Trazendo uma perspectiva como vereadora, o interior tende a ser mesmo mais conservador de uma maneira geral. E eu sei que isso aqui em Três Rios se confirma, vide as eleições de 2018. Enfim, tende a ser mais conservador, mas o que o eleitor do interior quer do candidato são coisas mais específicas, como votar em candidatos locais — expôs Bia.


O argumento de Bia se confirma, por exemplo, no caso do analista de sistemas e morador de Sapucaia há pelo menos 20 anos, Antônio Bento, de 26 anos. “Plano de governo bem estruturado e que contempla agendas ambientais, políticas sociais e fiscais, com algum projeto que tenha relação e beneficie a evolução da minha cidade”, disse Bento ao ser perguntado sobre a descrição de um candidato que julga ser ideal.

Santinhos cobrem ruas no Rio de Janeiro e incomodam eleitores (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Já a aposentada e moradora do Carmo há mais de 40 anos, Denize Bernat, de 64 anos, julga ser importante ter atenção ao passado e ao currículo do candidato, com a exigência de pensar sobre políticas públicas de uma maneira similar como ela acredita ser o ideal.


— Eu escolho em quem voto a partir do perfil do candidato, pelo jeito dele de governar, se ele tem propostas que pensam nas pessoas mais humildes. O histórico do candidato também é importante, principalmente o que a gente já conhece da vida política dele, mas é isso. Para mim o candidato tem que ser de um partido que eu tenha uma certa afinidade — disse Denize.


Isso também vale para o advogado Darwin Cali, de 25 anos, que vive em Sumidouro desde que nasceu. “Eu procuro alguém que bata com meu perfil de entendimento sobre economia e sociedade. Também procuro saber qual grau de escolaridade e de intelecto aquele candidato ali vai ter para até mesmo poder governar e tudo mais, a não ser que a pessoa tenha um passado político que faça vez disso”. Ele, no entanto, alerta para o fato de que os eleitores de Sumidouro, assim como grande parte de outras cidades do interior do estado, dispõem de um apego local e costumam buscar benefícios próprios na hora de decidir o voto a candidatos estaduais.


— Sumidouro é uma cidade extremamente conservadora. Como a cidade é pequena, a maioria dos eleitores vão votar esperando cargo político ou alguma promessa financeiramente interessante para eles. Para Deputado, os eleitores costumam votar em candidatos de Nova Friburgo que são mais próximos do prefeito. Para Senador, votam por partido. Para Governador e Presidente, votam no candidato mais conservador possível com maior discurso de ódio porque não se importam muito com isso — revelou Cali.


O jornalista e morador de Petrópolis, Philippe Fernandes, de 31 anos, também acredita que exista um pensamento diferente do eleitor do interior para o da capital do estado. Segundo ele, “o principal é entender que o eleitor [do interior] é bem mais conservador, tanto quando a gente fala em direita contra esquerda, quanto valores e características pessoais mesmo, opinou. Assim também pensa o jornalista especialista em política pública e morador do Rio de Janeiro, Caio Bellandi, de 32 anos, que enxerga um impacto municipal muito maior no interior, mas ressalta que o conservadorismo também tem forte presença na Região Metropolitana do estado.


É claro que é possível dizer que os eleitores do interior são mais conservadores, mas no geral, essa lógica se aplica também em outros nichos da própria Região Metropolitana, como é o caso da presença do eleitorado evangélico e católico. Há no interior, mas também há na capital. Por isso, acredito que a maior diferença de perfil é que, para o eleitor do interior, a relação do candidato com seu município faz mais diferença, e muitas vezes isso se dá por meio da relação política e econômica de um governador tentando a reeleição com um prefeito do mesmo partido ou por meio de um partido aliado, por exemplo — avaliou Bellandi.


É possível perceber nas falas do engenheiro elétrico e morador de Petrópolis, Estevão Dantas, de 30 anos, e do estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas de Nova Friburgo, Lucas Marano, de 23 anos. Os dois colocam a confiabilidade e a honestidade antes mesmo de julgar a competência de um determinado candidato.


Nunca ter sido julgado e condenado por algum crime enquanto na vida pública ou política, ainda que inocentado posteriormente por falta de provas (ou esquecimento delas). Não ser obviamente um babaca com qualquer um e, mais importante ainda, não ser radical, seja o lado que for. Meu candidato precisa ser responsável — disse Dantas.


Exijo ser ficha limpa, mas o diferencial é ter muitas matérias positivas ou negativas a respeito do candidato na internet. Não necessariamente matérias, mas coisas positivas ou negativas — revelou Marano.


Curiosamente, também há um pensamento similar na capital do Rio de Janeiro. Segundo o médico Antônio Sperandio, de 55 anos, a honestidade e a oposição à radicalidade são fatores importantes na hora de decidir em quem votar.


— Minha exigência é que o candidato seja uma pessoa honesta e não seja radical. Sinceramente, isso é algo que pesa até mais do que concordar com o posicionamento político do candidato. Claro que o ideal é um candidato que tenha um pensamento próximo ao meu. Mas, hoje, acredito que precisamos de políticos que estejam dispostos a fazer o bem e que não tenham nenhum tipo de preconceito — expôs Sperandio.


Por outro lado, o estudante de economia e também morador da capital do Rio de Janeiro, Victor Ferreira, de 24 anos, avalia que o candidato precisa ter foco na gestão fiscal a fim de prevenir riscos e corrigir problemas que desequilibrem as contas públicas, além de dar prioridade à manutenção da ordem pública. Minhas exigências são de que o candidato seja compromissado com a responsabilidade fiscal do Estado e dê atenção a pautas sociais sensíveis, incluindo o foco na segurança”, opinou.


A opção política de Ferreira vai de encontro com a opinião de Caio Bellandi, que enaltece o fato de a segurança pública ter uma relevância bem maior para o eleitor da Região Metropolitana do que para o eleitor do interior do estado. Para o jornalista, o crescimento do crime organizado tem influência, mas também é preciso levar em consideração fatores econômicos.


O tema da segurança pública sempre pesa para o eleitor da capital e região, dado o histórico de escalada de violência urbana em toda a Região Metropolitana, e, principalmente, pela dinâmica territorial das áreas dominadas pelos poderes paralelos do crime organizado. Entretanto, por conta da crise econômica severa que o país vive, acredito que as questões de emprego e renda também pesam — avaliou Bellandi.


Como definição para as diferenças dos eleitores da capital com os do interior, o jornalista Philippe Fernandes é direto e acredita que exista discrepância no estilo de vida de ambos os perfis. Além disso, Fernandes projetou que as duas regiões devem ter um viés político distinto na eleição deste ano.


Acho que a demanda do interior é outra, o perfil de vida é outro e geralmente os políticos da capital não dialogam muito com as necessidades do interior. Historicamente há essa linha de corte nas eleições. É difícil explicar isso de forma clara, mas na eleição deste ano, por exemplo, creio que na capital há uma tendência de resistência menor à esquerda do que no interior — concluiu Fernandes.


As eleições de 2022 vão acontecer no dia 2 de outubro, com o voto dos brasileiros para presidente da República, governador, senador, deputado federal e deputado estadual ou distrital. Caso seja necessário, o segundo turno para presidente e governador está previsto para o dia 30 do mesmo mês.

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