Pesquisadores divergem ao pensar a real influência das pesquisas eleitorais nas eleições deste ano
Luiz Inácio Lula da Silva é protagonista em todas as pesquisas eleitorais até agora. Foto: Ricardo Stuckert
Para o designer e coordenador de campanhas eleitorais Daniel Brick, as pesquisas são determinantes na hora de decidir a viabilidade e os rumos de uma candidatura. Mas será que elas têm o poder de influenciar tão fortemente a opinião pública a ponto de resolver uma eleição?
O professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e autor do livro “Opinião pública e comportamento político” (2012), Emerson Cervi, afirmou que a discussão sobre os efeitos só se justifica no caso das pesquisas dos últimos dias das últimas semanas de eleição. Para o especialista, portanto, não faz sentido falar em voto útil decidido pelas pesquisas de opinião, mas por outros fatores.
— Os efeitos são muito diferentes, porque se, por exemplo, uma pesquisa indica 80% x 20%, ela não vai ter impacto algum sobre a decisão do eleitor. Agora, se você está na última semana e os números indicam 51% x 49%, isso vai estimular a tomada de decisão e os decididos vão tentar ganhar votos. Mas esse efeito só acontece no final e é muito minimizado — afirmou Cervi.
O professor de Comunicação Sérgio Roberto Trein defendeu que a influência existe. Para o pesquisador, o impacto pode ser visto ainda na pré-campanha. “Talvez o efeito maior seja mais próximo da eleição, mas [caso não tenha um bom número] vai criando uma desmobilização dos financiadores e da militância. Aos pouquinhos, mostrando que ela não tem muita chance de crescer.”
Trein se debruça sobre o tema desde 2005, quando publicou o artigo “O duplo papel das pesquisas eleitorais: eleitora de quem está na frente, adversária de quem está atrás”. No texto, argumenta que, no geral, o eleitor médio define seu voto dedicando a menor quantidade de tempo e esforço possível à análise dos candidatos.
As pesquisas têm papel fundamental nesta etapa, já que o eleitor, segundo ele, tem uma visão superficial de todo o processo político e, por isso, baseia suas decisões na intenção de voto da maioria.
Para o coordenador de campanhas Daniel Brick, a polaridade demonstrada nas pesquisas eleitorais representa menos da metade do eleitorado. “Pode ter certeza, a maioria está pensando em um caminho novo. Cada estado tem um cenário próprio, costumes etc.” Apesar disso, concordou que consolidar um nome inédito para o cargo executivo parece improvável este ano. “Terceira via só se mostrará viável com as pesquisas. Caso alguém desponte, poderemos ver um fenômeno novamente de migração.”
O designer se referiu às eleições de 2018, quando o ex-presidente e atual candidato, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conseguiu que seus votos migrassem para o ex-prefeito de São Paulo, candidato à época, Fernando Haddad (PT). Lula estava preso na ocasião. Mesmo nessas condições, Haddad recebeu 44,87% dos votos válidos no segundo turno.
Com mais institutos do que há 20 anos e, consequentemente, maior quantidade de dados para serem analisados, a realidade não parece indicar esta direção. As pesquisas têm demonstrado estabilidade para as eleições à presidência, e não indicam, por enquanto, outra candidatura original com números crescentes.
Os protagonistas, Lula e Bolsonaro, disputam com folga. A última pesquisa eleitoral, encomendada pela Genial/Quaest e divulgada no dia 8 de junho, indica que o primeiro tem 46% da intenção de votos, enquanto o segundo, 30%. Todos os outros candidatos não somam 25%, em qualquer que seja o cenário.
Seja como for, o que as recentes pesquisas têm demonstrado é que os eleitores sustentam a tendência de polarização das eleições em 2022, e que candidatos satélites não recebem boas notícias.
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